Eu, mulher, na tecnologia
Dia Internacional da Mulher
Passei parte do mês de Fevereiro pensando sobre o mês de Março pelo simples motivo de termos “um dia especial”, que é hoje: dia 08 de Março, Dia Internacional da Mulher. O dia internacional da mulher é lembrado anualmente pela luta da igualdade entre homens e mulheres, veja mais aqui — leitura simples.
Mas o fato é que eu nunca me lembro “sozinha” desse dia. Sempre me lembro porque, todos os anos e novamente esse ano, recebi convites para prestigiar eventos que vão falar sobre mulheres (a sua grande maioria liderado por mulheres), tecnologia e vários outros assuntos que estão em alta; recebi várias mensagens de alguns bancos e aplicativos que consumo me presenteando com desconto pelo mês da mulher; recebi também muitos convites de lives que competem horário, dentre outras coisas.
Mais um ano, eu me peguei pensando sobre o que é ser mulher e principalmente o que é ser mulher em tecnologia — puxo pra minha área, mas tenho consciência que outras áreas também tem muitos desafios. Dessa vez, decidi compartilhar minha reflexão, então: senta que lá vem história.
Minha lembrança mais forte sobre o dia da mulher desde que escolhi estudar computação, foi uma prova da disciplina de Algoritmos e Estruturas de Dados. A configuração da turma era: eu e 36 homens (35 alunos e o professor). Quando separaram as duplas para os trabalhos, eu não conhecia ninguém e então, sobrei. Não fui escolhida e não consegui escolher, e o semestre começou. Pensei em desistir, mas eu já tinha enfrentado outras dificuldades em outras disciplinas, e meus amigos que estavam em outras disciplinas me falaram “você não está sozinha” — eles também tinham muita dificuldade e não eram mulheres. Então, pensei: vou fazer o melhor que eu conseguir nas provas e seguirei insistindo, se não der certo, tento de novo semestre que vem.
Chegou a primeira prova do semestre, dia 08 de março (de algum ano entre 2012 e 2014). A prova seria no primeiro horário da tarde, logo depois do almoço. Me preparei muito, consegui liberação do estágio para focar na prova e me organizei porque precisava fazer alguns afazeres de casa. Me preparei até o último minuto, fiz um lanche de almoço para não pesar e sai na hora certa pro ônibus. O ônibus não parou. Cheguei atrasada. Quando cheguei na sala, todos estavam já sentados com a prova em mãos. Pedi licença e entrei, tinha um lugar reservado para mim no meio da sala — literalmente no meio. Eu sentei, preparei a mesa, aguardei o professor trazer a prova. Ele esperou que eu me acomodasse, veio até minha mesa todo sorridente e eu já estava com o coração disparado de nervosismo. Ele estendeu a mão com uma rosa e disse: “Feliz dia internacional da mulher, você merece!” Eu disse, com aquele sorriso amarelo e com muita vergonha, “obrigada”… em seguida, escutei vozes misturadas — dos colegas de aula que eu nem nunca ouvi a voz antes — repetindo: “feliz dia da mulher, Ana”. Eles sabiam o meu nome. Eu fiquei a prova inteira tentando me concentrar, mas minha cabeça voltava e dizia: eles sabem meu nome, eles me deram parabéns, eles viram que estou aqui. Enfim, fiz a prova. Não fui muito bem, continuei sem dupla o resto do semestre e reprovei na disciplina. Fim da minha mais forte experiência do dia da mulher na tecnologia.
Compartilho essa memória porque me marcou e todo ano eu lembro disso e fico pensando o que tirar da experiência… eu sei que eu me movimentei, refiz a disciplina, o professor até me apoiou no meu intercâmbio, me movimentei e me formei… mas tem mais nisso, tem mais porque a lembrança volta com força todo ano. Foi um gesto tão pequeno, mas que mexeu comigo… quando fui vista, mesmo que só aquele dia. Dia 08 de Março, é um dia importante para nós mulheres, mas precisa ser mais que só um dia.