Como tudo começou…

Ana Teixeira
5 min readMar 22, 2021

e porquê insisto em qualidade de vida.

Photo by Andrew Neel on Unsplash

Hoje, quando eu falo sobre buscar qualidade de vida, cuidar da sua saúde mental, ver fora da caixa que você está e tratar as pessoas como você gostaria de ser tratado, muitas pessoas me elogiam falando que estou atualizada e alinhada com o mercado e, principalmente, com o momento atual que estamos vivendo. Vim dividir com você que meu comportamento é minha essência e como tudo começou.

Aos 6 anos de idade, fiz minha primeira prova eliminatória para iniciar no ensino primário. Não me lembro de ter me preparado, mas lembro do meu pai dizendo que eu precisava de me sair bem. Não lembro como, mas o fiz. Durante esse tempo na escola, sempre estive entre os melhores alunos — entre crenças conservadoras e racismo estrutural: essa era mais que minha obrigação. Durante o ensino fundamental, fiquei no top 3. Tentei meu máximo até o primeiro lugar… mas o primeiro lugar era político: eu precisava me envolver em eventos da escola e com pessoas que não tinham os meus valores. Aceitei meu segundo lugar com a consciência tranquila. Já no ensino médio, essa competição acabou e deu espaço às listas das turmas: a mais bonita, a barriga mais reta, o cabelo mais bonito, o rosto mais de boneca e a lista dos mais inteligentes. Eu sempre estive na lista dos mais inteligentes e nas outras, meu nome nem era incluído. Isso me incomodava, mas eu não entendi o motivo. Meus pais me criaram para conseguir cuidar da minha saúde — principalmente de forma preventiva, ser melhor que eu possa ser, ajudar sem ver a quem e respeitar o outro. Então, naquela época, o menor dos meus problemas era não estar naquelas listas. Desde aquela época, meus pais cuidavam de ocupar meu tempo com atividades extracurriculares. Uma delas, foi iniciar um curso profissionalizante em informática e alguns projetos de “faça você mesma” em casa. Ao final do ensino médio, tive que escolher um vestibular para prestar e logo escolhi Ciência da Computação.

A escolha do curso foi uma grande surpresa, não tenho histórico familiar de pessoas formadas na faculdade e as poucas que estavam iniciando nisso, estavam seguindo para áreas mais tradicionais. Minha mãe ficou muito preocupada porque não sabíamos com o que eu iria trabalhar e era uma área muito masculina. Iniciei minha jornada de provações em 2011 e ter sido melhor aluna a vida toda não valeu nada na universidade. Completei 18 anos no meu primeiro semestre na graduação e de presente, ganhei minha primeira crise de ansiedade (não reconhecida assim antes) quando reprovei em cinco das seis disciplinas no primeiro período.

O que poucas pessoas lembram desse período, foi que me envolvi em atividades extracurriculares da universidade, fui atrás de saber porquê não tinham muitas mulheres, busquei envolver meu grupo de colegas em atividades de lazer e descanso entre uma tarefa e outra lá na universidade mesmo. Fui taxada de louca por isso. E quando reprovei nas disciplinas, foi assim: “ah lá, não funciona buscar isso, tá vendo? vamos focar nos estudos”.

Desanimei muito, procurei outro curso… mas nada brilhava meus olhos quando eu pensava e falava sobre. Decidi continuar o curso e mudar minha estratégia. Me planejei em fazer uma quantidade menor de disciplinas para não desistir no meio do caminho. Decidi também fazer algo que eu faço até hoje: de segunda a sexta dou meu máximo para estudar, trabalhar e entregar o que preciso e aos finais de semana, eu busco estar com quem cuida de mim, descansar e aprender algo fora do meu contexto. Em alguns momentos, isso não funcionou (e funciona) e estudei de segunda a segunda para chegar onde eu quis… mas sempre cuidei de ter um tempo para mim — por menor que seja. Dentre muito estresse, loucuras, discussões, pessoas que entraram e saíram da minha vida, um intercâmbio que mudou minha visão do mundo, eu mantive minha luta por equilíbrio entre minha vida acadêmica, pessoal e profissional que estava surgindo.

Depois de algum tempo, consegui criar o meu ritmo e consegui assumir várias coisas junto com o curso, um estágio, um grupo de trabalho voluntário, um grupo de estudos, um grupo de pessoas para ir ao clube e afins. Mantive meu envolvimento com a comunidade desde o começo, mesmo que com vergonha dos meus resultados como aluna. O curso envolveu não só as dificuldades na sua parte técnica — eu não tinha histórico anterior com programação ou lógica, nem eletrônica ou pesquisa acadêmica. Meu histórico era sendo professora de crianças na igreja, monitora no curso de informática e uma pessoa que estava treinada para resolver problemas.

Então, comecei a enfrentar cada semestre como um novo pequeno objetivo buscando aplicar o que eu aprendia na minha vida pessoal. Usava muitas técnicas de estudo e o tal do “dividir para conquistar”, ainda não sabia as melhores estratégias para descansar, mas sabia até onde meu corpo aguentava. Então, além dos desafios previstos pelas disciplinas técnicas, minha formação também incluiu conhecer mais de quem eu sou como pessoa, entender até onde estou disposta a me entregar num projeto, os valores que eu valorizo numa oportunidade, minha cor da pele (é, pois é isso mesmo), vários desafios de comunicação, muitas crises de ansiedade, muito estresse além de todas as alegrias que o período de graduação pode trazer.

Tudo isso afetou diretamente minha saúde física e mental, por isso, quando eu me formei, eu prometi pra mim mesma que eu mereço ter qualidade de vida. Por tudo que eu investi em mim mesma me desafiando a me formar, por tudo que minha rede de apoio fez (e faz) por mim, eu mereço qualidade de vida.

A busca por qualidade de vida é um nome curto para um processo contínuo e cansativo. Esse processo exige se reconhecer vulnerável e sujeito a falhas e principalmente se entender em diferentes situações que você está exposta. Essa busca abrange várias áreas da sua vida: profissional, pessoal, afetiva e estado de saúde.

Consigo compartilhar com tranquilidade porque, oficialmente, desde 2016 eu assumi minha busca por um estilo de vida saudável e venho buscado fórmulas de dividir a minha energia com outras pessoas que compartilham o mesmo sonho. Consigo também, no meio de uma pandemia, dizer que no último ano conquistei a qualidade de vida que eu esperava. Não deixei de ter crises de ansiedade e estresse — mas aprendi como me cuidar. Não deixei de ter problemas e dificuldades técnicas para trabalhar e estudar — mas todos os dias aprendo uma nova forma de aprender como contornar esses problemas. Por conta de várias notícias ruins, escolhi me alienar em alguns momentos — o tal do silêncio.

Minha história, minha formação, minha criação como ser humano — crenças e costumes, me trouxeram ao que sou hoje: formada bacharel em Ciência da Computação há quase 4 anos e trabalhando com tecnologia desde 2012, uma mulher, negra, que que busca qualidade de vida, um ambiente de trabalho não tóxico, bem-estar físico e mental, satisfação comigo mesma. Quem melhor para te contar isso, que eu? Insisto na qualidade de vida porque precisamos reconhecer que cada pessoa é mais que uma mastigadora de código, é mais que uma máquina movida a café, é mais que uma repetição infinita de um conceito pronto e mais: é uma pessoa que constrói solução para outras pessoas.

Deixo aqui minha apresentação de como cheguei até aqui e espero conseguir ser o ponta pé que te faltava para começar buscar seu equilíbrio!

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