Bastidores: como é a vida de uma desenvolvedora com preocupação com o bem estar?
Entrevista comigo mesma: compartilhando com você as perguntas que mais respondo nas minhas redes sociais
Tenho visto algumas pessoas compartilharem sobre ser filha, mãe, amiga, cozinhar, lavar, trabalhar, estudar, dar aula online e outras várias atividades e quando perguntam ‘como você consegue’ a resposta é ‘faço tudo mal feito’. Quis compartilhar um pouco sobre como é por trás de tudo que tenho feito, porque eu acredito que faço bem feito tudo que faço (obrigada minha psicóloga por me ajudar a ver minha autoestima).
Eu sou filha, irmã, namorada, amiga, mentora, engenheira de software, apaixonada por compartilhar conhecimento, apaixonada por redes sociais, apaixonada por exercícios físicos (sim, é real) e muito mais que isso.
A pergunta que mais recebo nas minhas redes sociais é: como você consegue fazer tudo?
Minha resposta é simples e direta: eu não dou conta de tudo, sempre fica alguma coisa para trás ou atrasada. Para entender que eu não consigo fazer tudo, foram muitas frustrações, muitas crises de ansiedade. Tem sido um processo que envolve muito da minha saúde física e mental . Vivo numa montanha-russa de sentimentos, não sou diferente de ninguém. O que é diferente é que eu falo: falo de tudo, pergunto de tudo, vou atrás — esse é o meu diferencial. Então, passei a falar nas horas certas e com as pessoas certas. Para dar conta de tudo, preciso pedir ajuda, ir atrás de uma rede de apoio (seja minha família, amigos, colegas de trabalho ou você que lê meu texto por aqui ou por alguma das minhas redes). Mesmo falando e pedindo ajuda, essa rede é feita por pessoas que também têm múltiplas funções e papéis. Então, algumas vezes, a única coisa que vou conseguir fazer (do todo) é pedir ajuda porque a rede pode estar ocupada. Também entra o detalhe de expandir essa rede e dar o benefício da dúvida para quem eu ainda não conheço, dar a oportunidade de criar um laço e confiança para uma nova pessoa na rede.
A outra pergunta que mais recebo é: como você se mantém motivada sempre?
Minha resposta é: o mundo já está desanimado demais para eu me desanimar também. Tenho momentos do dia que não consigo mesmo me animar e geralmente é um conjunto de pequenas coisas que me derruba, não uma coisa só. Acrescento que estamos em pandemia e só o fato de estar viva e com saúde é suficiente para eu me animar. Eu tenho o defeito de acreditar demais nas coisas boas do mundo… ainda carrego uma inocência que faz parte da minha personalidade. Isso me ajuda a me manter motivada, mas eu também sou muito crítica. Ser crítica afeta minha motivação porque eu critico tudo, reclamo, falo sozinha, sofro mesmo, pesquiso possibilidades, vejo os números se for possível e quando eu avalio a maior quantidade de possibilidades de um fato que me desanima: eu aceito que o ‘não’ e o ‘desânimo’ eu já tenho, logo, eu vou pelo outro lado e vou cheia de energia. Então, eu uso técnicas de produtividade para manter meu ritmo e isso faz parecer que estou sempre animada. Mas na verdade nem sempre é animação: é disciplina em seguir um planejamento que eu organizei para mim.
E por último, mas não menos importante: como é a vida de uma desenvolvedora preta mulher e com preocupação com o bem estar?
Todo dia é um desafio diferente. Eu criei uma rotina para minha vida aceitando os horários que eu funciono melhor e aprendendo a lidar com mudanças. Ser desenvolvedora envolve conseguir estudar, trabalhar, participar de reuniões, codificar, atender cliente e empresa. Nesse papel, eu criei uma rotina: visito meu e-mail duas vezes ao dia, o calendário e o registro de horas trabalhadas ficam abertos o tempo todo, utilizo a técnica de pomodoro para trabalhar — principalmente entre reuniões, coloco agendas pessoais para fazer pausas entre reuniões e alarmes no celular para lembrar de comer. Minha preocupação com o bem estar me fez criar a mesma rotina aplicada a minha vida pessoal, geralmente uma vez na semana eu visito minha lista de tarefas e prioridades da semana — muitas vezes é por isso que demoro a responder mensagens e e-mails pessoais — porque apesar de eu entrar todos os dias, eu defini um dia e horário para dar atenção a isso. Da mesma forma que o trabalho como desenvolvedora exige que eu me posicione como mulher, mulher negra e fique bem diante de todas as dificuldades, minha vida pessoal também exige. E eu sou a mesma pessoa em todos os papéis, então a vida é um desafio que algumas vezes é resolvido num piscar de olhos, outras vezes precisamos de dias como sprints de trabalho para aprender e resolver.
Muita coisa tem mudado com a pandemia, mas tenho orgulho de dizer para você e para mim mesma que o que estou conquistando agora, eu comecei a criar na minha mente pelo menos uns 10 anos atrás quando formei no ensino médio. Então, é sim, necessário dar tempo ao tempo e aproveitar o caminho — acolher seu processo.